21:07

Há momentos assim...

Escrito por Pressão |

14h50m, num qualquer banco do jardim de Amadora.

Sentei-me a pensar que só precisava de uns momentos a sós. Repor energias.
Não tive sequer tempo de pensar se a vista era boa. Ao meu lado senta-se uma senhora (para a qual nem olhei), aliás só percebi que se tratava de uma senhora pela pergunta, ou melhor, afirmação rápida: “há aqui lugar para mais uma, não há?”!
Nem me dei ao trabalho de responder.
“Ai! Estes ossos…” – ouvi-a suspirar.
Suspirei também. Não quero. Não te estou a ouvir. Só preciso de 5 minutos comigo mesma. Não estou para conversas!
“A doença dos ossos não tem cura, é o que é!” – tentou uma vez mais.
Parei de respirar e olhei-a por detrás dos meus enormes óculos de sol. E, estranhamente, desvaneceu-se aquele sentimento de invasão.
Rosto redondo, lábios muito finos, pele enrugada e uns olhos acinzentados minados de cataratas, escondidos por uns óculos com armação de massa castanha e adornos dourados.
Sorriu.
Reparei então nos pormenores. Gorro a condizer com a íris, do qual espreitavam uns cabelos muito brancos.
Era assim que imaginava uma avó para mim. Com aquele sorriso. Com aquele olhar que implorava uma qualquer palavra. Mas não falei. Em sinal de respeito tirei os óculos de sol e sorri-lhe.
Foi a minha desgraça. A Sr.ª iniciou um monólogo, em que falou do neto, da serra de Monchique – onde vivia – e das mudanças que Amadora sofreu nos últimos anos. Tentei deter o seu monólogo dizendo que eu não conhecia a Amadora, que até aquele então eu desconhecia, inclusive, que a referida terra tinha um jardim!
Pior a emenda que o soneto. Do cimo dos seus 91 anos (e aqui eu tenho de curvar-me… é um posto!!!) retomou o monólogo mas, desta vez, sobre arquitectura.
Voltei aos óculos de sol e ao “mundinho” imaginário, com baloiços e túlipas.
Fui salva às 15h10, pela versão moderna do “príncipe no cavalo branco”.
Agradecida.

E descobri que, afinal, até estava para conversas. Desde que fosse um diálogo!

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