Estava frio. Uma das janelas abertas agitava-lhe o cabelo, mas ela não sentia. Olhava tão fixamente para um ponto que os olhos ameaçavam chorar de exaustão. Ali estava ela. Corada. Nervosa. Muda. Mas ele já a conhecia. Só era incapaz de adivinhar a que se devia tal mutismo.
A noite aqueceu. A música subiu de tom. Ela relaxou e até sorriu. Quis o acaso que os seus olhos se cruzassem ao som da música. Quis o acaso que ela tivesse coragem para o encarar. E ali estava ele. Aterrado. Nervoso. Confuso.
Ela conseguiu sentir-lhe o calor muito antes do toque acontecer. Conseguiu adivinhar-lhe o cheiro muito antes dos seus braços a envolverem. E quando voltaram a olhar-se não entenderam como se tinham deixado levar até ali.
Foi o único aviso.